As Escolas Bíblicas de Obreiros e o Desafio do Estudo Sistemático da Bíblia
3ª Escola Bíblica na Assembleia de Deus de Belém em 1926. Sentados, da esquerda para a direita, Absalão Piano (segundo), Nels Nelson (quarto), Samuel Nyström (quinto) e Bruno Skolimovski (sexto). Na segunda fila, em pé, da esquerda para a direita, José Menezes (terceiro) e Cícero Canuto de Lima (quinto)
A partir de 1922 a realização de Escola Bíblica Obreiros passou a ser uma prática nas principais igrejas Assembleias de Deus no Brasil.
Nossos pioneiros sabiam que a Bíblia é a revelação progressiva de Deus; que o seu constante estudo sob o influxo do Espírito Santo, conduz-nos a uma crescente revelação do Senhor e a visões mais gloriosas de sua divina pessoa. Então, o estudo e o ensino das doutrinas e verdades eternas da Bíblia devem ser sistemáticos, metódicos, graduais, dosados e pedagógicos, sem, contudo, deixar de ser profundamente espiritual.
Em relação às Escrituras Sagradas, devemos cuidar sempre para que não existam os estremos do academicismo e da superficialidade.
Como era feita a divulgação e quem podia participar
Para os obreiros participarem da Escola Bíblica, era publicado um convite nos periódicos das Assembleias de Deus da época. Eram convidados pastores, evangelistas e crentes em geral, que se sentissem chamados por Deus para o ministério do evangelho (evangelista e pastor). Os que ainda não eram ordenados obreiros e desejassem cursar a Escola Bíblica deveriam levar carta de recomendação da igreja em que pertenciam ou do pastor do campo. Todos os interessados deviam também avisar com antecedência a sua presença ao pastor da igreja hospedeira.
Os principais professores de EBOs nas primeiras décadas
Os mais conhecidos professores das Escolas Bíblicas em suas primeiras décadas, foram os missionários suecos, entre eles Samuel Nyström e Nels Nelson, e os missionários norte-americanos Nels Lawrence Olson e John Peter Kolenda. Pastores brasileiros passaram a ser professores com mais frequência a partir da década de 40, destacando nesse ministério do ensino o pastor João de Oliveira.
O debate: Escola Bíblica ou Curso Teológico?
A necessidade de se investir mais em escolas bíblicas regionais para obreiros foi defendida pelo missionário Samuel Nyström quando presidiu a Convenção Geral de 1948 e os convencionais N. Lawrence Olson e J. P. Kolenda (missionários norte-americanos) defenderam a criação de cursos bíblicos por correspondência e institutos bíblicos. Embora contrário à fundação de institutos bíblicos, Nyström reconhecia ser realmente necessário um maior preparo teológico para os obreiros, mas, segundo pensava, as Escolas Bíblicas seriam suficientes.
Os desafios do estudo sistemático da Bíblia Sagrada
Passados 100 anos da realização da primeira Escola Bíblica de Obreiros nas Assembleias de Deus, persistem os desafios para a realização do estudo sistemático das Escrituras Sagradas entre os crentes. A seguir, destaco quatro desses desafios a serem resolvidos:
Mais leitura da Bíblia Sagrada
O estudo da Bíblia depende de sua leitura habitual diária, pois o princípio do estudo bíblico é a leitura da Bíblia. Mais do que estudantes, precisamos de leitores da Bíblia. Quanto mais lemos a Palavra de Deus, mais desejamos estudá-la. O Salmista declarou: “Oh, quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia” (Sl 119.97).
Mudar a mentalidade ainda existente contra o estudo sistemático da Palavra de Deus
Temos que ser pentecostais de coração (emoção) e mente (razão). Temos que ter os dons (carismas) mas também a Palavra (conhecimento). O apóstolo Paulo informou: “E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, …” (At 13.1a). Temos que combater o anti-intectualismo ainda subjacente nas mentes pentecostais. Contrariamente ao que muitos pensam, o pentecostalismo eclodiu no contexto de estudo sistemático da Bíblia. A maioria dos pioneiros do pentecostalismo nos EUA e no Brasil combinava academia com piedade (pietismo), e conhecimento bíblico com espiritualidade.
Mais espaço nas igrejas para o estudo da Bíblia
As prioridades nas igrejas precisam ser revistas. Quanto tempo a sua igreja se dedica a estudar a Palavra (estudos bíblicos, seminários, escola dominical)? Dá-se mais tempo a cultos de louvores, comemorativos? Para que a Palavra tenha prioridade será necessário que as igrejas renunciem a algumas coisas.
É um desafio permanente a necessidade de se gerar entusiasmo pelo estudo da Bíblia. Há que se ensinar uma Palavra vibrante, dinâmica, sem monotonia, com o brilho de verdades emocionantes que mudam vidas. Existem recursos e métodos que qualquer professor pode aprender e aplicar como passos positivos no sentido de produzir grande entusiasmo pelo estudo da Palavra de Deus.
Mais incentivo e apoio à formação bíblico-teológica dos crentes
Em 1996 foi lançado nos EUA o livro Quem Precisa de Teologia? Seus dois autores retrataram a situação entre os crentes norte-americanos quanto à Teologia, que não é muito diferente entre os crentes brasileiros. Eles disseram que muitos crentes não apenas não estão informados sobre a teologia básica, mas até parecem hostis a ela. Esses autores questionam o que causou essa falta de interesse terrível e hostilidade frequentemente abertas à Teologia entre crentes leigos e até mesmo entre pastores. Eles respondem que essa condição não resulta de nenhuma falha inerente na própria Teologia ou na vida intelectual ou espiritual dos crentes comuns. Para eles, resulta de mal-entendidos difundidos e popularizados sobre a Teologia. Esses autores, afirmam como professores de Teologia, que descobriram entre seus alunos uma fome e sede genuínas de uma compreensão mais profunda de Deus e dos caminhos de Deus. Eles revelam que não somente os acadêmicos, mas também entre crentes leigos e pastores em retiros e seminários que realizavam, eles encontravam essas pessoas abertas ao estudo sério e à reflexão sobre a Palavra de Deus à luz das questões contemporâneas. No entanto, esses autores disseram ter vivenciado um fenômeno estranho: entre aquelas mesmas pessoas famintas por compreensão e que podem oferecer insights maravilhosos, muitas vezes há um calafrio assim que a palavra Teologia é pronunciada.
Eles citaram uma pesquisa realizada em 1994 em que se propôs saber quais as qualificações os crentes desejam quando procuram um pastor. Os entrevistados classificaram “conhecimento teológico” como a última das cinco qualificações mais importantes para um bom pastor.
Apesar desta situação, prosseguimos conclamando mais incentivo e apoio à formação bíblico-teológica dos crentes. Os autores do livro e, nós também, concordamos que este é um objetivo louvável e, se mantido, aumentará a credibilidade do cristianismo em um mundo carente de respostas para as questões fundamentais da vida.
Pr. Prof. Isael de Araujo
isael.araujo@faecad.com.br